Você com certeza já ouviu alguém falar que prefere bicho do que gente, ou até mesmo disse isso. As justificativas costumam ser de que animais não traem, não mentem, não são falsos e amam independente do que você tem, mas por quem você é. Embora pareça óbvio, é necessário lembrar que animais e pessoas são diferentes, pois falas como essa podem levar à humanização de pets, algo cada vez mais comum e que não faz bem ao bichinho.

Amar o animal de estimação é normal, e mostrar o afeto por meio de carinhos, brincadeiras e mimos é completamente aceitável, mas existem limites no relacionamento entre pets e tutores que não devem ser ultrapassados em nome da hierarquia na casa e, principalmente, da saúde do bichinho. Entenda e saiba como não reproduzir a humanização de pets.

O que é humanização de pets?

Em 2015, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) incluiu, pela primeira vez, perguntas sobre animais domésticos em seus questionários. 

Dados coletados dois anos antes e divulgados em Junho de 2015 revelaram que o número estimado de cães e gatos nos lares brasileiros era de 74,61 milhões contra 44,9 milhões de crianças. Contando com outros animais, o número chegava perto de 100 milhões.

As informações evidenciaram algo que todo mundo já sabia, mas ainda não tinha como provar: as famílias brasileiras estavam tendo menos filhos e adotando mais bichos. A partir daí o mercado pet bombou, e naquele ano o setor faturou R$ 18 bilhões. No ano passado, a expectativa era chegar a R$ 36,2 bilhões. 

Os números impressionam, mas não surpreendem. Afinal, de cinco anos para cá os pets conquistaram ainda mais espaço, e hoje não faltam cafés, restaurantes e shoppings que aceitam animais de estimação, além de produtos e serviços outrora utópicos, como sapatinhos para cães e bolos de aniversário para gatos.

A humanização dos animais de estimação foi o nome dado a esse fenômeno de tratá-los como pessoas. 

É cada vez mais comum encontrar pessoas que se denominam mães ou pais de pet e se referem aos bichinhos como filhos, e embora o afeto seja parte essencial do relacionamento, é importante frisar que as necessidades de humanos e animais são completamente distintas – e quando isso não é respeitado, a relação pode ser prejudicada.

Por que a humanização de pets é maléfica?

Cães e gatos precisam, basicamente, de carinho, atenção, alimentação saudável, visitas ao veterinário em Guarulhos, um bom lugar para dormir e atividades físicas diárias.

Ao acreditar que o cão precisa ser colocado em um carrinho de bebê para passear ou que o gato precisa de banho e tosa semanais para ficar cheiroso, confundem-se os cuidados entre pets e crianças, o que com o tempo gera uma série de problemas.

 

  • Desrespeito à hierarquia

 

A regra é simples: se você se incomoda com pessoas mimadas, por que acharia divertido ter um pet mimado? Ao tratar o pet como igual (ou, em muitos casos, superior a você), a hierarquia na casa fica comprometida e o tutor pode ter problemas para adestrar e aplicar regras.

Se o pet está acostumado a subir no sofá quando quer, não vai entender por que não pode quando tem uma visita em casa e pode se tornar teimoso e até agressivo. Impor limites é uma prova de amor. 

 

  • Dificuldade de socialização

 

O comportamento mimado e humanizado cria uma barreira entre seu pet e outros cães e gatos, e isso não é motivo de comemoração, já que a falta de interação com outros animais pode levar à agressividade, ansiedade e depressão. 

Com o tempo, o pet perde seu senso de identidade e passa a demandar atenção integral do tutor, dependendo dele para atividades básicas como fazer xixi, se exercitar e até comer.

 

  • Mudanças de comportamento

 

Animais domésticos devem agir como animais domésticos. Cães devem latir, correr, cavar e rolar na terra, enquanto gatos devem se lamber, subir nos móveis, dormir várias horas por dia e fugir do banho.

Humanizar o pet é, acima de tudo, podar os comportamentos essenciais do bichinho, e isso leva à confusão e estresse, com comportamentos que vão desde urinar em locais inapropriados e roer móveis até se lamber excessivamente ou perseguir a própria cauda.

 

  • Danos à saúde

 

Acessórios, perfumes, sapatinhos, perucas, esmaltes e outros frufrus parecem lindos em vídeos, mas na maioria dos casos quem se diverte é apenas o tutor, pois os pets se sentem desconfortáveis com as peças.

Além do incômodo, que por si só leva ao estresse, materiais usados em produtos de baixa qualidade podem provocar alergias e feridas, enquanto peças pequenas podem ser engolidas e causar muita dor de cabeça.

Vale lembrar que um dos principais motivos para o abandono de pets é a dificuldade de adaptação. Ao criar a expectativa de que o bichinho pode se comportar como uma criança esquece-se de levar em conta a identidade do animal e seus comportamentos básicos, o que pode levar à frustração e consequente abandono.

É claro que cada caso é um caso. Alguns pets se divertem “brincando de ser gente”, curtem roupinhas e um pouco de mimo não faz mal a ninguém. Aqui, vale o equilíbrio, além da atenção às reações do pet: se ele não parecer estar se divertindo, não há motivo para forçá-lo, certo?

Como amar sem humanizar o pet?

Respeitar as cinco liberdades do animal é a melhor forma de garantir seu bem-estar e saúde sem humanizá-lo. São elas: 

  1. Liberdade de medo e estresse: animais não devem temer seus tutores e/ou outros animais da casa e nem vivenciar situações que lhe provoquem ansiedade;
  2. Liberdade de fome e sede: animais devem ter acesso à comida e água de qualidade na frequência e quantidade ideais;
  3. Liberdade de desconforto: animais devem viver em ambiente com abrigo, temperatura e superfície adequados para suas espécies, portes e necessidades;
  4. Liberdade de dor e doença: animais devem ter sua saúde física garantida por meio de visitas ao veterinário, vacinação de cachorro, gatos e tratamento adequado; 

Liberdade de expressão do comportamento animal: a espécie e raça dos animais devem ser consideradas. Podar os comportamentos naturais provoca sintomas como ansiedade, depressão, automutilação, entre diversos outros.

Humanização de pets: faz bem?
Classificado como: